quinta-feira, 20 de novembro de 2014

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   No bairro em moda de Schwabing, em Munique, o edifício de apartamentos na Adalbertstrasse, nº68, era dos poucos que ainda não fora invadido pela ruidosa elite profissional em expansão. Entre dois prédios de tijolo vermelho que reflectiam um encanto pre-guerra, este nº 68, bege e sem graça, atarracado, com uma fachada de estuque fendido, era a meia-irmã feia e mais nova. Por isso, os seus pretendentes eram uma vaga comunidade de estudantes, artistas, anarquistas e punk rockers impenitentes. Presidia-lhes uma porteira autoritária, Frau Ratzinger, que, constava, vivera no edifício de apartamentos original do nº68 quando este fora atingido por uma bomba aliada. Activistas da vizinhança atacavam o edifício como uma visão chocante a precisar de conversão. Os seus defensores diziam que era um exemplo da mesma arrogância boémia que fizera outrora de Schwabing o Monmartre da Alemanha - Schwabing de Hesse e Mann e Lenine. E de Adolf Hitler, seria tentado a acrescentar o professor que trabalhava na janela do segundo piso, mas poucos dos habitantes do antigo bairro gostavam que se lhes recordasse que, noutros tempos, o jovem austríaco banido também encontrara inspiração, naquelas ruas pacíficas, bordejadas de árvores.
O Confessor
Daniel Silva

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