quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Livros da nossa biblioteca

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   Era o dia 17 de Maio, e as rosas-chá do capitão Machado estavam abertas e já se desfolhavam. Lourença olhou da janela do quarto e achou que não havia razão para vestir muita roupa. Estava calor, e do mar, ao fundo da avenida, vinha uma brisa esperta, com ar de dança. Mexia nos fios eléctricos e fazia balouçar os pardais-rabotos que lá estavam. Lourença, se já não parecia contente com o vestido destinado para esse dia, mais contrariada ficou. Era um vestido de comunhão, de voile de lã, com lacinhos de alto a baixo, e a mãe garantia que era de bom gosto. Lourença estava na dúvida. Sentia comichão nos braços, apetecia-lhe rasgar alguma coisa nas costuras. A velha Serafina disse que era o demónio a tentá-la.
   - No seas pelma, criatura - disse-lhe. Era uma espanhola de feitio furioso, mas doce como um cordeiro para as crianças da casa.
Vento, Areia e Amoras Bravas
de Agustina Bessa-Luís 

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