"Temos de cortar as despesas", repetiu o diretor da faculdade. "as receitas caíram e, como o professor reconheceu ainda há momentos, os gastos têm de se adequar a essa realidade. Em conformidade, iniciámos um programa para reduzir o nosso quadro pessoal. Passei toda a semana a chamar aqui ao meu gabinete professores que não pertencem ao quadro para lhes explicar a situação e lhes dizer que, infelizmente, não podemos continuar a contar com eles, como seria o nosso desejo, devido à situação terrível em que nos encontramos".
O silêncio voltou ao gabinete, mais pesado que nunca. Tomás manteve os olhos cravados no seu anfitrião, tentando digerir o verdadeiro significado do que acabara de escutar. Ele próprio, tomou consciência, não pertencia aos quadros e fora chamado pelo director.
"O professor convocou-me para...para me despedir?"
Incapaz de se suster perante a brutalidade da pergunta, o olhar do João Água baixou para o soalho de cerejeira do gabinete. O director engoliu em seco antes de reunir coragem para voltar a encarar o seu abismado interlocutor.
"Lamento muito, Tomás".
A Mão do Diabo
de José Rodrigues dos Santos
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