Era uma vez cinco soldados franceses que andavam na guerra, porque as coisas são assim.
O primeiro, outrora aventureiro e alegre, trazia ao pescoço a matrícula 2124 de um posto de recrutamento do Sena. Trazia nos pés umas botas tiradas a um alemão, e essas botas afundavam-se na lama, de trincheira em trincheira, através do labirinto abandonado por Deus que conduzia às linhas da frente.
Um atrás do outro e sofrendo a cada passada. iam os cinco para as linhas da frente, braços atados atrás das costas. Conduziam-nos, de trincheira em trincheira, homens com espingardas - plofe-plofe, na lama, botas tiradas a um alemão - , na direcção dos grandes reflexos frios do entardecer para além das linhas da frente, para além do cavalo morto e das caixas de munições perdidas, e todas estas coisas recobertas pela neve.
Havia muita neve e era o primeiro mês de 1917, nos primeiros dias.
O 2124 avançava através das valas, arrancando as pernas da lama, a cada passada, e por vezes um dos homens ajudava-o puxando-o pela manga do velho capote, mudando a espingarda de ombro, puxando-o pelo capote retesado, sem uma palavra, ajudando-o a tirara as pernas, uma após outra, para fora da lama.
Um Longo Domingo de Noivado
de Sébastien Japrisot
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