terça-feira, 2 de julho de 2013

Um livro por dia...

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Se a vida fosse perfeita, ou melhor, se a vida fosse justa, provavelmaente não lhe chegaria uma, teria precisado de duas, pensou Filipe. Tinha o mundo a seus pés, literalmente. Sentado a uma mesa do bar, no último piso do hotel, quarenta andares acima da rua, voltou a cabeça para a direita e descobriu o seu rosto, a cantimetros, na janela panorâmica. Viu uma expressão melancólica reflectida no vidro. Era uma noite de Dezembro em Nova Iorque e, apesar do ambiente obscuro do bar, as lâmpadas fracas que pontuavam por cima do balcão circular, à sua esquerda, bem como a luz motiça que atravessava o abat-jour lacado em em azul-de-metileno, eram suficientes para o impedir de ver claramente os riscos luminosos das ruas traçadas à régua, cruzando-se e formando quadrados até ao fim de Manhattan, até ao buraco onde antes despontava o World Trade Center e agora havia o Memorial Site, até ao rio Hudson. Não vislumbrou a cidade, viu-se a si próprio. Sorriu, um reflexo da alma. A graduação dos óculos leves, discretos, aumentara acentuadamente ao cair dos quarenta - antes disso quase não os punha - e o cabelo, já ralo, usava-o muito curto.
Uma Noite em Nova Iorque
Tiago Rebelo 

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