segunda-feira, 15 de julho de 2013

Um livro por dia...

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QUARTA-FEIRA, DEZ DA NOITE
   - Deixa-me ver o teu telemóvel. Vá l´...
   - Toma!
Continuei de óculos na ponta do nariz, maquinal, a vasculhar nos papéis. As crianças não me conheciam, mas vinham, à socapa, mergulhar o rosto no meu colo. O telemóvel tinha mel.
   - Traz doze jogos, sabias?
   - Não - respondo, desinteressada, como que a enxotá-lo. Mas o rapaz não se dá por vencido.
   - Tens quantos anos? 
   - Quarenta.
Era a primeira vez que me perguntavam a idade depois de passar essa meta triunfal. Olhei de esguelha para o rapaz e pousei a caneta. Ele insistiu:
   - Tens quarenta? E quantos netos?
   - Netos?
   - Sim, netos. A minha mãe tem trinta e nove e já tem sete netos. Sabes jogar este? - aponta para o visor.
   - Não. Não percebo nada de jogos. Queres ensinar-me?
   - Bute. Mexes aqui e ele morre, mexes ali e ele come o outro.
Adopta-me
Maria João Lopo de Carvalho

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