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QUARTA-FEIRA, DEZ DA NOITE
- Deixa-me ver o teu telemóvel. Vá l´...
- Toma!
Continuei de óculos na ponta do nariz, maquinal, a vasculhar nos papéis. As crianças não me conheciam, mas vinham, à socapa, mergulhar o rosto no meu colo. O telemóvel tinha mel.
- Traz doze jogos, sabias?
- Não - respondo, desinteressada, como que a enxotá-lo. Mas o rapaz não se dá por vencido.
- Tens quantos anos?
- Quarenta.
Era a primeira vez que me perguntavam a idade depois de passar essa meta triunfal. Olhei de esguelha para o rapaz e pousei a caneta. Ele insistiu:
- Tens quarenta? E quantos netos?
- Netos?
- Sim, netos. A minha mãe tem trinta e nove e já tem sete netos. Sabes jogar este? - aponta para o visor.
- Não. Não percebo nada de jogos. Queres ensinar-me?
- Bute. Mexes aqui e ele morre, mexes ali e ele come o outro.
Adopta-me
Maria João Lopo de Carvalho
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