De manhã o general demorou-se muito na cave do lagar. Foi para a vinha de madrugada, com o vinhateiro, porque dois barris do seu vinho tinham começado a fermentar. Já passava das onze quando acabou o engarrafamento e voltou para casa. Debaixo das colunas do pórtico, cheio de bolor devido às pedras húmidas, esperava o guarda-caça, que entregou uma carta ao seu senhor que chegava.
- Que queres? - disse ele, parando com um ar aborrecido. Puxou para trás o seu chapéu de palha, cuja aba larga lhe ensomnbrava inteiramente o rosto encarnado. Há alguns anos que não abria nem lia cartas. Um feitor abria e seleccionava a correspondência no escritório do caseiro.
- Trouxe-a um mensageiro - disse o guarda-caça que aguardava hirto.
O general reconheceu a letra, pegou na carta e meteu-a ao bolso. Entrou no vestíbulo fresco e em silêncio entregou o chapéu e a bengala ao guarda-caça. Procurou os óculos no bolso interior, aproximou-se da janela e, na penumbra, à luz que vinha das frestas das persianas semicerradas, começou a ler a carta.
As Velas Ardem Até Ao FimSándor Márai
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