Era uma excitação louca. A minha mãe passava os dias a empacotar coisas, e encher malas e caixotes. Eu compreendia que estávamos prestes a começar uma vida nova.
Tinha acabdao de fazer seis anos e, depois da mudança, entraria para a escola primária. Enquanto a minha mãe se afadigava com as malas e se mostrava cada vez mais nervosa, eu passava quase todo o dia na quinta do agricultor Völkel. Assistia à ordenha das vacas no estábulo, dava de comer aos porcos e às galinhas, rebolava no feno com os outros miúdos, passeava-me pela quinta com gatinhos nos braços. Um Verão maravilhoso, o primeiro de que tive plena consciência. (...)
Como todos os dias, olhei-me ao espelho. Aquele rosto não me pertencia. E aquele corpo escanzelado também não. Quanto a este, nem sequer o sentia, nem mesmo quando estava doente. A heroína tornara-o insensível à fome, à dor e até mesmo à febre. Só despertava do meu torpor quando estava em crise de abstinência...
Os Filhos da Droga
Christiane F.
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