quinta-feira, 9 de maio de 2013

Livros da nossa biblioteca

                                                                                chocolateparaalma.blogs.sapo.pt

   Era a última coisa que ele esperava que acontecesse, naquela manhã enevoada de Agosto, quando foi passear pela praia. Era um homem de hábitos regulares, tão previsíveis como as marés. Acordava de manhã, atirava as pernas para fora da cama e, fosse qual fosse o tempo, dirigia-se para o mar em passos largos. Gostava daquela comunhão matinal com a s ondas, com a cadela a ladrar de alegria enquanto corria ao lado dele, de língua pendente, num delírio. fazia-o sentir-se vivo.
   Uma rápida chávena de chá e depois, ala!, para saudar o sol, só ele e a cadelita, pela colina baixo, as cortinas das casas por onde passavam ainda fechadas. Por vezes cruzava-se com um varredor de ruas solitário, um bêbado cambaleante mas, em regra, a cidade era só dele. Gostava de sentir a brisa fresca do mar a chegar até ele, no sopé da colina, ainda com tanto espaço vazio à sua volta. Mais tarde, quando chegassem os charabãs e os excursionistas, tudo ficaria diferente: as ruas ficariam apinhadas, os seixos da praia cobertos de corpos rosados e pálidos, os gritos e o ribombar das correrias à beira-mar levados pela brisa colina acima. Mas, naquele momento, a terra pertencia-lhe.
O Presságio da Sereia
Katy Gardner   

Sem comentários:

Enviar um comentário