quarta-feira, 29 de maio de 2013

Livros da nossa biblioteca

                                                                                          
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As ondas perfeitas são quase todas como obras de arte. Não havendo processo de criação humana, não são realmente peças artísticas. Mas apetece olhar para elas como se admiram quadros, se ouvem sinfonias, se revêem certos filmes. Há uma igreja em Roma, a Igreja de São Luís dos Franceses, que tem numa das capelas três quadros impressionante de Caravaggio sobre a vida de São Mateus. Um deles, o da Vocação, faria de qualquer museu um lugar de visita obrigatória em qualquer outra cidade do mundo. Mas, como estes quadros estão em Roma, onde há mais obras de arte que semáforos, os Caravaggios estão discretamente ali, ao alcance de quem quiser dar-se ao trabalho de ir espreitá-los. Não se paga nada, só mesmo o incómodo de um sinal-da-cruz, para quem os faz. É isso que é engraçado: uma pessoa pode ir ali as vezes que quiser, sem gastar dinheiro nenhum, olhar para aqueles quadros como se olha para as estrelas, para um pôr do Sol ou para uma rapariga bonita que passa à nossa frente: beleza pura em liberdade.
   As ondas também são assim: beleza pura em liberdade. Estão ao alcance de todos, mas só repara nelas quem tem sensibilidade para isso: os poetas, os jovens nas primeiras paixões, os fotógrafos amadores.  E alguns surfistas, mas não muitos.
No Princípio Estava o Mar 
Gonçalo Cadilhe 



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