terça-feira, 21 de maio de 2013

Livros da nossa biblioteca



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    Não era um cão como os outros. Já o meu pai o dizia, quando caçávamos às codornizes nos campos de Águeda.
   - Este cão é um grande sacana, caça um bocado e depois põe-se a fazer a parte, olha para ele, está-se nas tintas para as codornizes e para nós.
   Era uma das suas características, fazer ouvidos moucos, aparentar indiferença, fosse por espírito de independência fosse porque gostava de armar à originalidade. Mais tarde um dos meus filhos diria que o cão tinha apanhado os tiques de certas pessoas da família, numa alusão indirecta ao avô e a mim, esquecendo-se que era ele próprio a quem o cão mais imitava.
   Mas era, também, um cão capaz do inesperado, como, de repente, levantar uma narceja.
   Então o meu pai comovia-se:
   - Este filho da mãe podia ser um bom cão, é pena não estar para isso.
   Mas não estava, essa era a questão. Ele nunca estava para aquilo que dele se pretendia. Desobedecer era a sua divisa, a gente a chamar e ele a fazer de conta. Desde que chegou, ainda cachorro.
Cão Como Nós
Manuel Alegre

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