sexta-feira, 17 de maio de 2013

Livros da nossa biblioteca

                                                                                  viajarpelaleitura.blogspot.com


   
   O dia a partir do qual nada continuaria a ser como até aí, na vida de Raimund Gregorius, começou como tantos outros dias. Vindo da estrada nacional, entrou às sete e quarenta e cinco na ponte de Kirchenfeld, que liga o centro da cidade à zona onde se encontra o liceu. Era isso que fazia todos os dias de trabalho durante e ano lectivo, e chegava à ponte precisamente um quarto de hora antes das oito. Quando uma vez encontrou a ponte vedada ao trânsito cometeu um erro na aula de Grego, logo a seguir. Nunca tal tinha acontecido antes, e nunca aconteceu depois. A escola inteira comentou esse lapso durante dias a fio. Quanto mais tempo durava a discussão, maior era o número daqueles que o atribuíam a um erro de audição. Finalmente, essa versão acabou por se impor também entre os alunos que estavam presentes quando isso ocorreu. Era simplesmente impensável que o Mundus, como lhe chamavam, pudesse cometer um erro em Grego, Latim ou Hebraico.
   Gregorius olhou em frente, para as torres esguias do Museu de História da cidade de Berna, mais para cima, para a cintura do trânsito e para baixo, para o Aare, com as suas águas glaciares verdes. Um vento agreste, que arrastava núvens baixas, virou-lhe o chapéu-de-chuva e molhou-lhe o rosto com rajadas de chuva. Foi então que reparou na mulher no meio da ponte.
Comboio Nocturno para Lisboa
Pascal Mercier 

Sem comentários:

Enviar um comentário