segunda-feira, 4 de março de 2013

Livros da nossa biblioteca

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   Partira com o pai para Sevilha com quinze anos e três meses de idade e regressara, treze dias depois, feito um homem. A mãe notou-o logo, assim que o viu descer do cavalo, ambos ensopados em suor e requebrados de cansaço, mas o rosto do filho com um brilho novo, um brilho de descoberta no mais fundo do castanho escuro dos seus olhos. Notou até como ele lhe falava agora de forma diferente, como se qualquer coisa de intransponível se tivesse vindo interpor entre eles, e como respondia com uma sobranceria ridícula, e até aí desconhecida, às perguntas insistentes do irmão, olhando-o de cima a baixo, muito para além dos escassos cinco anos de idade que os separavam.
   Sevilha deslubrara-o, assim que passara a ponte de Guadalquivir e avistara ao longe a cúpula da Giralda elevando-se acima dos telhados da cidade. Tinha atravessado como num sonho a Calle de Alcalá, a avenida fronteira ao palácio real de Afonso XIII, a catedral, a Plaza Mayor e o extenso Parque da Maria Luísa, sob cujas árvores frondosas, algumas trazidas das Américas, os sevilhanos vinham abrigar-se do calor assassino dos meses de Verão, os namorados vinham ajustar casamentos e os amantes traições a cumprir.
 Rio das Flores
de Miguel de Sousa Tavares

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